Resumo
Ao longo da sua história, o montado e as populações que viveram na sua área de influência passaram por períodos críticos, devido a guerras, conjunturas económicas ou climáticas adversas, entre outras situações. Nestes períodos, e conforme os alimentos disponíveis, as populações adaptaram a sua alimentação, utilizando recursos que vulgarmente não são aproveitados e que estão disponíveis na natureza, usualmente denominados por alimentos de substituição. Um dos exemplos mais conhecidos é o da bolota, amplamente utilizada em Portugal, ao longo de diferentes períodos, mas também outros como sorvas, mançanilhas e soromenhos, pilritos, murtinhos, pútegas, medronhos, funcho, amoras silvestres, cardos, espargos bravos eram utilizados. Um trabalho prévio de prospecção junto de utilizadores destes produtos revelou existir, no património oral das populações, um conjunto significativo de receitas e práticas que permitiam um aproveitamento muito mais sistemático e efectivo dos mesmos.
O conceito de alimentos de substituição surgiu associado aos períodos restritivos da primeira e segunda guerras mundiais, em que o racionamento severo de alguns produtos alimentares levou, com frequência, à sua substituição por outros usualmente não utilizados. Alguns destes não substituíam completamente os alimentos originais, mas outros ganharam estatuto próprio devido às suas características distintivas. Nesta apresentação pretendemos mostrar resultados preliminares sobre a utilização de alimentos de substituição nos montados do Alentejo, no segundo e terceiro quartis do século XX. Os objectivos deste texto vão, pois, ao encontro da proposta inscrita na Convenção de 2003 da UNESCO, que apela à Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que inclui, simultaneamente, não só a salvaguarda, como também a sensibilização das instituições e das comunidades.