Resumo
Analisamos neste artigo um conjunto de quinze escrituras de compra e venda condicional de escravos registradas no município paulista de Casa Branca na década de 1870. Em tais escrituras foi negociado um total de 25 cativos. Não obstante perfazendo uma quantidade relativamente reduzida, esses negócios revelam a efetivação de determinados ajustes entre as partes contratantes, se não exclusivos, decerto particularmente adequados a uma localidade situada em região onde então radicava a fronteira de expansão da cafeicultura em São Paulo. A maior parte das transações estudadas ilustra uma forma de financiamento da qual se lançou mão em meio àquela expansão; nessas vendas, as pessoas comercializadas continuaram sendo utilizadas pelos vendedores. Em outros dos casos contemplados, nos quais os escravos foram entregues aos compradores, é possível sugerir que esses negócios encobrissem a vigência de “períodos de teste” daquelas mercadorias. Ademais, vislumbramos certa proximidade entre algumas das situações descritas, em que os compradores pagavam jornais aos cativos que adquiriam, e os negócios de aluguel de escravos, ou mesmo a categoria urbana dos cativos de ganho. E houve casos, em geral negócios com prazos mais dilatados, nos quais os vendedores realizavam as ditas vendas por serem devedores dos compradores. Parece-nos correto sugerir, nas situações em que se salienta a ideia
da venda como maneira de alavancar recursos, que a perspectiva dos potenciais vendedores não era abrir mão de seus escravos. Os potenciais compradores, por seu turno, ainda nos casos em que almejassem a propriedade daquela mão-de-obra, acabaram atuando, ao menos temporariamente, à semelhança de uma instituição bancária que fornecesse crédito mediante a garantia hipotecária do ativo representado pelos cativos possuídos por seus tomadores.